EP 122: Cannes x Netflix | Aos Teus Olhos | Baseado em Fatos Reais

[A Guerra Está Declarada]

De um lado o Festival de Cannes, onde todos os autores de cinema querem estar. De outro, a Netflix, a gigante dos serviços de streaming. No episódio da semana, convidamos Paula Ferraz para retornar ao podcast e participar de um debate sobre essa guerra (19:07). Vamos aproveitar e entender um pouco mais de como funciona a distribuição dos filmes em streaming no Brasil.

Entre as estreias da semana, dois destaques: Aos Teus Olhos, da brasileira Carolina Jabor, mexe na polêmica do linchamento virtual (1:00:13). Já Baseado em Fatos Reais (1:18:01) é o novo thriller do diretor Roman Polanski.

Cantinho do Ouvinte, a definição do primeiro eleito para a Cinemateca da Varanda, e Recomendações com destaque para os filmes Severina e o sul-coreano O Dia Depois (o novo de Hong Sang-soo). Ainda temos tempo para uma pincelada no É Tudo Verdade, além das primeiras impressões da nova versão da série Perdidos no Espaço. Bom podcast!

| Metavaranda |

Aos Teus Olhos | Carolina Jabor | 58
Baseado em Fatos ReaisD’Après une Histoire Vraie | Roman Polanski | 31

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Gravado na segunda, 16 de abril, na varanda do Michel.

16 comentários sobre “EP 122: Cannes x Netflix | Aos Teus Olhos | Baseado em Fatos Reais

  1. A produção desta arte que amamos é tão grande e com tantos filmes que considero haver espaço tanto para o cinema (tal como definido pela Ferraz, ou seja, cinema físico, com sala de projeção e afins) como para o streaming, contudo, para nós é diversão, entretenimento, arte, etc., mas para o pessoal de Cannes é um negócio, e como visão de um negócio a Netflix é uma concorrente e certamente haverá embates e discussões no campo dos negócios… Felizmente acho que com tudo isso quem ganha somos nós!

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  2. Amigos Varandeiros,

    A participação da Paula é sempre uma delícia. É muito prazeroso ouvi-la falar sobre este universo de bastidores. Vou me ater a um aspecto que ela levanta, porque entendo caber uma reflexão.

    O que é o cinema?

    Se tornamos o cinema como um objeto forjado em discursos, numa linha Foucaultina, poderíamos dizer que o cinema hoje não é o mesmo objeto do cinema de algumas décadas atrás. Hoje, o enunciado “isto é cinema!” se refere muito mais ao filme do que ao local que ele está sendo exibido. Antes, era o contrário, a expresso cinema estava ligado ao local da exibição do audiovisual. Por isso que, muito de nós falamos que há produções audiovisuais, que passam em salas de projeção, que não são cinema e que há produções visuais que nunca (ou quase) pisaram numa sala de projeção que são puro cinema (vide a série feita por Lynch). Dito isso, hoje, o cinema é a arte, não o local de sua exibição… Ainda que eu adore a caverna escura… Não troca ela por nada e ensino, como Paula, aos meus filhos amarem aquele lugar.

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    1. Por sinal, outra discussão presente sobre o objeto cinema diz respeito à captura de imagem… Alguns dizem que o cinema morreu com a Kodak e o filme… Hoje seria o a era do diginema… Eu não pertenço a esse grupo, mas não deixa de ser interessante… Afinal, você jamais veria Xato Dolan estar na ilha de edição para piorar o que já é ruim… Isso só acontece por que a captura é digital.

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  3. Acho que filmes da Netflix podem ser considerados cinema sim, assim como grandes produções feitas para a TV (Twin Peaks é o melhor exemplo recente). Cinema, pra mim, é um conceito pouco tangível que contempla mais o apuro da realização que a plataforma onde ela é exibida.

    Mas é importante a gente lembrar que, mais do que cinema, a Netflix é uma grande corporação. E, quanto mais ela cresce, mais ela dá motivos pra gente questionar o modelo de negócio dela. Considerando o volume de produções próprias que ela despeja no cardápio, acho que o aproveitamento da qualidade é muito baixo. São muitos títulos meia-boca para poucos que sejam realmente marcantes. Se a Netflix acabasse hoje, qual seria o grande legado dela? Acho que não chegaríamos a dez obras das quais lembraremos daqui a 25, 30 anos.

    No fim das contas, a gente precisa ter cuidado pra não ver essa “””guerra””” (que merece várias aspas) de uma forma maniqueísta. Não é o festival caretão e anacrônico contra o streaming moderninho. Nem são os paladinos do cinema autoral contra os assassinos da arte. A indústria cultural é complexa e tem muitos matizes.

    Abraços e parabéns pelo belo episódio!!!

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  4. Adorei a participação da Paula. E reforço a hashtag #tiagovejaarabiadenovo rs
    No mais, queria registrar que estou muito orgulhosa de mim: consegui acertar os filmes de todo mundo! Acho que deve ser pq há 1 ano e 4 meses eu ouço vocês semanalmente.

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  5. A França é um paraíso para os espectadores, com cinemas prósperos e subsídios estatais para novas produções. A Netflix é uma gigante global de streaming fundada no conceito de que os cinemas são uma coisa do passado. Então, talvez fosse inevitável que os dois mundos colidissem no Festival de Cinema de Cannes.

    Desde que entrou no mercado cinematográfico, a Netflix está em rota de colisão com o estabelecimento de distribuição de filmes. Os serviços de streaming se tornaram uma alternativa para aqueles cineastas que não conseguem o financiamento dos seus projetos por um grande estúdio, já que filmes independentes, na maioria das vezes, não dão lucro, mas apenas prestígio em grandes premiações. Além disso, a Netflix está mais do que nunca sedenta por conteúdo e mais do que isso, que suas produções sejam reconhecidas e premiadas internacionalmente.

    Esta disputa em Cannes é a maior frente no que será uma guerra contínua; a questão pode ser qual lado vai perder mais. Cannes confere prestígio automático a seus concorrentes, e a Netflix pode encontrar dificuldades em encontrar grandes nomes da indústria cinematográfica se não puder garantir o acesso aos principais festivais. Alfonso Cuarón, Paul Greengrass, Jeremy Saulnier e Orson Welles estão entre aqueles que estão vendo seus filmes serem retirados da competição este ano.

    Mas a Netflix pode muito bem fazer com que Cannes desabasse. Cannes rivaliza com outros festivais mais flexíveis (como Veneza, Berlim, Toronto e Telluride), podendo estes últimos se tornarem o lugar para estrear estes filmes rejeitados em Cannes. A seleção oficial de 2018 anunciada na última quinta-feira por Cannes é emocionante, com novos filmes de grandes diretores internacionais em pauta. Mas, este ano, a programação carece de filmes de grande impacto e de grandes nomes da indústria também.

    Cannes, na minha opinião, tem todo o direito de exigir que os filmes que participam da competição também sejam exibidos nos cinemas. Afinal, é o maior festival de celebração do cinema do mundo e nada mais justo que seus prêmios sejam dados para pessoas que realmente valorizem a sétima arte. Ninguém esperaria que o Oscar indicasse filmes disponíveis apenas por meio de serviços de streaming. No entanto, a França, com seu política estatal rígida e cheia de regulamentos dificulta a vida da Netflix ou a Amazon.

    Como eu (e muitos outros) apontaram, o modelo que a Netflix segue é agressivo e incomum mesmo para uma empresa de streaming. A Amazon, outra grande plataforma de streaming de produção de filmes, exibe filmes nos cinemas durante meses antes de colocá-los exclusivamente em sua plataforma on-line. A Netflix insiste em lançamentos do tipo “dia e data”, o que significa que a maioria das redes de cinema nos EUA não fará negócios com eles (e significa que eles não podem lançar filmes originais em países com leis mais rigorosas, como a França).

    Acontece que Cannes não proibiu Netflix do festival – apenas da competição. E a Netflix, embora tenha o direito de ficar aborrecida, se não furiosa, com a regra de transmissão de três anos da França, retaliou de uma forma que só pode ser considerada punitiva. Se não podemos competir no nível superior, então você não pode ter nenhum dos nossos filmes! No entanto, a Guerra Fria entre Cannes e a Netflix, embora tenha assumido a forma de uma disputa de ego no peito, representa um genuíno choque de valores em que o significado simbólico de cada lado se tornou mais importante do que qualquer filme.

    Você poderia argumentar que a obsessão de Cannes com a tradição agora está prejudicando o festival; este ano, ela (voluntariamente) sacrificou alguns dos seus holofotes. No entanto, a Netflix, se fosse realmente a guardiã do futuro do cinema, poderia ter concordado em deixar o “The Other Side Of The Wind”, pelo menos, ser mostrado fora de competição. A empresa declara seu compromisso com os filmes (eles incluem o apoio original do filme de Welles e o orçamento de US $125 milhões que entregou a Martin Scorsese para fazer “The Irishman”). No entanto, sua falta explícita de interesse na distribuição cinematográfica pode ser fatal. A Netflix, a seu modo, realmente quer criar o futuro do cinema – um futuro que não inclui cinemas. E se a Guerra Fria entre Cannes e a Netflix parece uma queda de braço sem fim, quando se trata de saber se queremos assistir a ótimos filmes nos cinemas ou se ficamos tão felizes (se não mais) em vê-los apenas em casa, essa guerra obriga todos a tomar uma posição.

    Para mim, o que se começa a pôr em questão, no entanto, não são desavenças comerciais maiores ou menores. É o próprio destino do cinema como arte (ou diversão, ou ambos, não importa) de fruição coletiva que está ameaçado. Para os EUA, como se sabe, esse tipo de questão é irrelevante: o importante é que o negócio vá em frente. Para os europeus, que têm apreço grande pelo cinema em salas, trata-se ao menos de adaptar a indústria, de prepará-la para uma transformação que hoje já parece bastante possível.

    Por enquanto, Netflix e Cannes parecem ter chegado a um impasse. Mas apesar de suas diferenças ideológicas, há um ponto em que ambos os lados concordam. Ecoando Frémaux, o chefe da Netflix, Ted Sarandos, observou em 2015 que “Nada na Netflix pode competir com o desejo de sair ao cinema com sua namorada(o). Se você não quer colocar seus sapatos, nada nos cinemas pode competir com a Netflix. ”

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  6. Interessante o debate, mas faltou um ponto importante que acredito a participante Paula Ferraz não levou em conta: a perspectiva do público. Afinal de contas, nos dias de hoje, o streaming democratizou o acesso ao cinema para uma grande parcela da população que não tem dinheiro para ir sempre às telonas ou tem filhos pequenos ou outros obstáculos (filmes de arte não passam em quase nenhuma cidade do Brasil, salvo os grandes centros), então considerar que cinema é apenas aquele local físico é um pensamento um pouco quadrado, antiquado e purista. Muitas pessoas tem acesso a muitas produções por meio do streaming, a um preço acessível, ajudando assim a diminuir a pirataria. Quanto à queda de braço, Netflix e Cannes, acredito que se a primeira se curvar aos caprichos da segunda, isso vai elitizar ainda mais o cinema de arte, o que não acho nem um pouco legal. Mas claro, Cannes tem todo direito de fazer suas exigências quanto aos filmes que podem ou não participar do Festival, no entanto nesse aspecto estou do lado da gigante americana que pode e deve fazer valer os seus interesse comerciais e o de seus assinantes. Acredito que o meio pelo qual os filmes são distribuídos e divulgados não importa tanto quanto eles em si mesmos.

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    1. Deixando claro que eu não sou nem um pouco contra o streaming, eu inclusive falei que consumo muito mais streaming do que cinema, só acho que são experiências completamente diferentes, e que ver um filme no cinema é muito melhor do que ver em casa.

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  7. Olá, Varandeiros!

    Que maravilha, mais um episódio com a Paula Ferraz! O “Perdidos na Tradução” é o meu preferido disparado – e, sempre que quero impressionar numa roda de conversa, explico o porquê dos filmes levarem a palavra amor em seus títulos BR.

    Mas, antes de tudo, quero enaltecer a velocidade de fala do Michel. As aberturas estão cada vez mais velozes! Hoje foi algo como: “Varandeiras e Varandeiros, começamaisumcinemanavaranda”. Uma carreira como rapper não deve ser descartada.

    Sobre a polêmica Netflix x Cannes, estou fechado com a Paula! Se passa só na Netflix não é cinema.

    Parabéns pelo programa e até a próxima!

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  8. Paula, se demorarem pra te convidar para uma nova participação eu sou a favor de vc fazer a “invasão da Varanda”! Sempre ótimos os episódios com você.

    Claro que a gente não é ingênuo de achar que a briga Netflix x Cannes é só briga de criança mimada, já que tem muito mais por trás do que imaginamos, mas o meio termo vai ter que acontecer. Ao meu ver está bem claro que Cannes defende o cinema como “local” para apreciação de filmes, independente da concepção XYZ de “cinema” (vide Lynch), mas precisa abrir mão dessa janela de 3 anos que não cabe no mundo de hoje mais. Já o Netflix precisa perceber que nem tudo (ou pouca coisa) que produz é digno de festivais e variavelmente ficariam restrito às mostras paralelas. Se não for assim, os três (incluindo a gente) perdem nessa disputa.

    Abraços a todos

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