EP 179: High Life | Longa Jornada Noite Adentro

[Longa Jornada Espaço Adentro]

Espaço/tempo, fluxo de memórias, viagens espaciais… Esta semana, o podcast leva os varandeiros a uma aventura além das estrelas.

Começamos o itinerário com o sci-fi filosófico da diretora francesa Claire Denis. High Life (2:55) leva Juliette Binoche e Robert Pattinson ao espaço em uma trama sobre encarceramento, solidão, falta de esperança e regeneração – tudo isso, claro, no caminho de um buraco negro.

Aproveitamos a deixa para recordar muitos filmes considerados do gênero que refletem sobre a condição humana (35:23), de Kubrick a Nolan, passando por Ridley Scott e Villeneuve. Tem Tarkovski e até Chris Marker.

O drama surrealista Longa Jornada Noite Adentro (1:07:06) é a estreia da semana em destaque. O diretor chinês Bi Gan vai se tornando queridinho dos festivais, mas alguns o acusam de ser uma espécie de carpinteiro arthouse. Será que ele fica ou cai da varanda?

No Puxadinho (1:26:00) tem Varda por Agnès, Detetive Pikachu, Cemitério Maldito, a série de animação Tuca and Bertie e muito mais. Além da participação dos ouvintes no Cantinho do Ouvinte. Bom podcast!

| Metavaranda |

High Life| Claire Denis| 62
Longa Jornada Noite Adentro| A Long Day’s Journey Into Night| Bi Gan | 57

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Gravado na segunda, 13 de maio, na varanda do Michel.

10 comentários sobre “EP 179: High Life | Longa Jornada Noite Adentro

  1. Olá, varandeiros!

    Tive o privilégio de assistir a High Life em uma sessão com a Claire Denis, que ao vivo é exatamente o que o Michel descreveu: “sobrenatural e perversa”. Ela contestava todas as perguntas dos dois mediadores (um professor e um crítico) e levava a discussão em outra direção. Com as perguntas da plateia ela era muito mais generosa. Em algum momento fiquei até com dó de um dos mediadores, que foi praticamente humilhado (com muito humor da parte dela) por fazer uma pergunta que ela considerou idiota. Foi incrível.

    Essa mistura de ternura e violência também é a marca do filme, que me encantou muito mais do que a vocês. Concordo que tem alguns problemas de roteiro, mas a visão de Denis é tão poderosa que compensa eventuais imperfeições com relação às convenções da narrativa.

    Talvez o interesse primário dela não seja a ficção científica com a qual estamos acostumados, que vê o Espaço como esse lugar do desconhecido maravilhoso, do futuro, mas acho sim que o cenário é essencial para realizar a visão dela. Denis vê o espaço como uma paisagem carcerária, nos lembrando que o horizonte de toda a vida humana é esse Grande Inabitável. O planeta Terra, no fim das contas, é uma grande espaçonave. Um pouco como naquelas histórias da legião estrangeira (vide Beau Travail), um grupo de presidiários é enviado para o deserto, mas o deserto aqui é absoluto. Será possível sustentar alguma vida num lugar assim?

    Denis editou um número da zine da A24 (dá pra achar na internet!) que ela entitulou “Seeds” (sementes), em que ela reúne algumas das inspirações e referências do filme. Entre outras coisas, há fotos de sementes submetidas à radiação nuclear, e outras que foram levadas ao espaço pela NASA e depois viraram souvenir a ser comercializado. A questão para Denis então é, justamente, o que acontece com essas semente lançadas no espaço, sementes inférteis como o sêmen dos astronautas presidiários ou como esses próprios astronautas, “lixo humano” lançado no espaço vazio para, quem sabe, num vôo delirante da fantasia, germinar.

    Sinto que esse tipo de pergunta dialoga com uma tradição da ficção científica que não é anglófona, mas, pelo menos, russa. Enquanto a sci-fi espacial americana é obcecada pelas noções de exploração (científica e econômica) e de Fronteira, outras tradições possuem outras perguntas (e vale ressaltar que são sempre as perguntas que importam, e as perguntas são sempre, antes de mais nada, humanas). Se como Denis afirma no espaço só se fala inglês, chinês e russo, ela se alinha com esses últimos, com o Solaris de Tarkovski e Stanislaw Lem e o Hard to be a god de Aleksei German e dos irmãos Strugatsky. Se num filme como 2001 há no final um momento de transcendência, em que a aparição do Bebê Galáctico confirma a possibilidade de o ser humano “ir além”, em High Life o encontro com o buraco negro resulta em uma morte brutal (como no caso da jovem espaguetificada) ou em uma pergunta sem resposta. O importante naquele final não é a transcendência da condição humana, mas o pai e a filha se darem as mãos e encararem de frente a morte e o nada.

    Enfim, espero que tenha conseguido transmitir um pouco do que me encantou e, quem sabe, contaminar um pouquinho vocês também!

    Abraço,

    P.S: Apoio 100% o programa e/ou bloco especial para a Cris, e já sugiro um nome apropriado: Cinema da Sacada.

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  2. Faz tempo que não deixo um comentário mas me senti na obrigação porque o Jonathan Glazer foi espinafrado na Varanda! ( : Mas falando sobre os filmes de ficção científica, eu curto os mais filme B, como Soylent Green – No Mundo de 2020, Westworld – Onde Ninguém Tem Alma, Zardoz e Corrida Silenciosa. Um abração a todos os varandeiros.

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  3. Olá Pessoal! Essa semana tenho algumas coisas pra falar pra vocês:
    1) Não creio até agora que vocês criticaram Interestelar!!! Um dos meus filmes favoritos! Mas tudo bem, continuo adorando vocês da mesma forma, nada mudou entre nós rsrs.
    2) Chico, assisti ao filme “Plus One”, no entanto, gostei muito mais do “Coherence”, que me manteve mais curiosa e entretida o tempo todo com os mistérios que ele coloca, como as fotos, os objetos, as cores dos marcadores, etc.
    3) A título de curiosidade ouvi o episódio 1, sim o episódio piloto da Varanda, e adorei ver a evolução de vocês e do programa ao longo do tempo.
    4) A Cris perguntou se a gente quer ver mais sobre série no podcast e eu gostaria sim (amo séries), mas não sei se o programa não perderia o objetivo principal que é falar sobre cinema, acabaria sendo um podcast sobre entretenimento.
    5) Estou fazendo uma lista de filmes que quero ver que vocês indicaram, mas sinto que preciso de um ano de férias para ver tudo!
    Abraço a todos, vocês me acompanham no carro quase todo dia!

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  4. Olá varandeiros!

    Adorei o papo, amo ficção científica, é um dos meus gêneros favoritos.
    O que eu gosto de observar em vários diretores que eu gosto é que geralmente eles começam, ou passam, pelo scifi, talvez por ser um gênero que dá pra se arriscar sem se preocupar em seguir uma cartilha de gênero.
    Um exemplo que eu gosto bastante – e assisti porque vi o Chico falar muito bem – é Dark Star, o primeiro do John Carpenter. Hilário, e Carpenter sabe aliar muito bem os poucos recursos e o baixo orçamento de seu filme de estreia com uma premissa que tira sarro de vários outros filmes de ficção científica, por isso o tom de zombaria funciona tão bem.

    P.S.: não odeiem Interestelar, é lindo. Eu choro compulsivamente com o Matthew McConaughey. Vejo vários defeitos ou exageros no filme também, mas o Nolan conversa comigo por ele de um jeito tão tocante que não há problema ali que consiga me incomodar.

    Abraços!

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      1. Também aconteceu isso quando eu estava ouvindo, achei que era problema de conexão do bluetooth do carro, mas pelo visto foi na gravação deles mesmo.

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  5. Olá, varandeiros! Assim como o Chico, sci-fi é meu gênero favorito. Queria saber melhor a opinião de vocês sobre De Volta para o Futuro, que é um dos meus filmes favoritos. Também senti falta de vocês comentarem sobre Matrix, que ao meu ver é um dos sci-fi mais relevantes da história. Abraços!

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  6. Olá, varandeiros! Era para ter respondido sobre esse episódio desde semana passada, mas a correria da vida me fez postergar.

    Sou tímido mesmo e nem desconfiei de que meu comentário no episódio anterior seria lido. Quando disseram meu nome e começaram a ler meu depoimento, precisei dar uma pausa no podcast. Risos. Ouvi o restante vermelho de vergonha, mas fico feliz em saber que gostaram do que escrevi. Foi de coração!

    Abraços!

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  7. Varandeiros, faz tempo que não comento mas estou sempre ouvindo. Decidi comentar dessa vez porque é possível que o João Moreira Salles leia meu comentário e descubra que eu estou precisando de uma graninha extra e que aceito doações.

    Sobre High Life: entendo perfeitamente o ponto de vocês, mas a narrativa (no sentido mais tradicional) nunca me interessou muito, então realmente não ligo tanto pra esses pequenos defeitos do roteiro. Me interessa muito mais ver como a Claire Denis se aproveita desse ambiente pra explorar o trauma e o terror do indivíduo que não tem mais autonomia sobre o próprio corpo. Ela é expert em filmar espaços e corpos interagindo, então é bem impressionante como essa questão central de afeto x brutalidade ganha corpo (literalmente) e como ela explora bem essas pequenas tensões físicas. Acho um dos grandes filmes do ano.

    Sobre o filme do Bi Gan: tenho a impressão de que é um filme que tenta fazer várias coisas que outros cineastas asiáticos contemporâneos (Apichatpong, Hou, Jia, etc) já fizeram, mas sempre muito abaixo deles. Acho que é um cineasta que tem potencial, mas não pode ser bom sinal que eu passe 2h20 assistindo um filme e só consiga pensar em como já vi coisas parecidas com absolutamente tudo o que está na tela, e na maioria das vezes realizadas com mais competência. Mesmo a questão do plano-sequência de uma hora em 3D me parece só um truque (“plano-sequência de uma hora em 3D” parece até uma piada sobre os delírios de grandeza de um Iñárritu ou Malick da vida). Nos filmes que o Bi Gan gostaria de ter feito, o plano-sequência é um elemento muito natural, surge de maneira muito orgânica no fluxo da narrativa (Hou…), mas aqui parece mais um fetiche autocongratulatório mesmo. Me parece que ele tenta até esconder o caráter fetichista dessa ideia, tentando se aproximar mais da sensibilidade desses outros cineastas asiáticos do que do exibicionismo de um blockbuster, mas pra mim não faz muita diferença.

    Aliás, vi mês passado o Carvão Negro, Gelo Fino, do Diao Yi’nan (que tá com filme novo em Cannes). Fiquei com a impressão de que é exatamente um filme do Bi Gan feito “certo”, rs.

    Ah, só pra aproveitar que já tô aqui: além do Varanda Awards de melhores do ano, vocês bem que podiam fazer uma premiação de melhores da década também, hein?

    OBS: O WordPress tava meio esquisito aqui, então peço desculpas se o comentário aparecer duplicado

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